segunda-feira, 27 de julho de 2009

Uma pena...








É uma pena que um país, como o Brasil, que tem tudo para ser "desenvolvido" e deixar de ser "subdesenvolvido" tenha tanta corrupção.

sábado, 25 de julho de 2009

Fantastica Mafalda


A triste partida


Setembro passou, com oitubro e novembro
Já tamo em dezembro.
Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
A treze do mês ele fez a experiença,
Perdeu sua crença
Nas pedra de sá.
Mas nôta experiença com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natá.
Rompeu-se o Natá, porém barra não veio,
O só, bem vermeio,
Nasceu munto além.
Na copa da mata, buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.
Sem chuva na terra descamba janêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão
Entonce o rocêro, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!
Apela pra maço, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva! ta tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando segui ôtra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo mau burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.
Nòs vamo a São Palo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamo vagá.
Se o nosso destino não fô tão mesquinho,
Pro mêrmo cantinho
Nós torna a vortá.
E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,
Inté mêrmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece feliz fazendêro,
Por pôco dinhêro
Lhe compra o que tem.
Em riba do carro se junta a famia;
Chegou o triste dia,
Já vai viajá.
A seca terrive, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natá.
O carro já corre no topo da serra.
Oiando pra terra,
Seu berço, seu lá,
Aquele nortista, partido de pena,
De longe inda acena:
Adeus, Ceará!
No dia seguinte, já tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a corrê,
Tão triste, o coitado, falando saudoso,
Um fio choroso
Escrama, a dizê:
- De pena e sodade, papai, sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comê?
Já ôto pergunta: - Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrê!
E a linda pequena, tremendo de medo:
- Mamãe, meus brinquedo!
Meu pé fulô!
Meu pé de rosêra, coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.
E assim vão dexando, com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso, nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Su.
Chegaro em São Paulo - sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha, da mais feia gente,
Tudo é diferante
Do caro torrão.
Trabaia dois ano, três ano e mais ano,
E sempre no prano
De um dia inda vim.
Mas nunca ele pode, só veve devendo,
E assim vai sofrendo
Tormento sem fim.
Se arguma notícia das banda do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de uvi,
Lhe bate no peito sodade de móio,
E as água dos óio
Começa a caí.
Do mundo afastado, sofrendo desprezo,
Ali veve preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando, vai dia vem dia,
E aquela famia
Não vorta mais não!
Distante da terra tão seca mas boa,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo,
Vivê como escravo
Nas terra do su
Composição: Patativa do Assaré

Língua Portuguesa e o Estrangeirismo

A língua portuguesa se parece muito com o Brasil cosmopolita. Nosso país abriga pessoas, que já formaram gerações, de diversas regiões do mundo – a nossa miscigenação tão falada. O paralelismo entre a nação e a língua é justamente pela introdução de fatias de outras culturas.
Quanto aos estrangeirismos, algumas expressões já foram “abrasileiradas”, como o caso do verbo ‘deletar’. Outras são usadas do jeito original, como fast-food, overbook e outras expressões que facilmente poderiam ser trocadas por um similar nacional, mas que insistem em permanecer como exceções à regra.
O Projeto de Lei 1676, de 1999, de autoria do deputado Aldo Rebelo, procura eliminar o uso desnecessário dessas expressões, na tentativa de valorizar a língua nacional. A polêmica em cima disso reside no seguinte questionamento: é realmente necessário proibir por lei o estrangeirismo? Se for o caso, a lei surtirá efeito?
Na minha opinião, a resposta para ambas as perguntas é ‘não’. Primeiramente, mesmo sendo contra o uso excessivo de estrangeirismos, não considero válida a criação de uma lei para este fim. Cada um deve usar ou não a língua portuguesa por uma questão moral, e não legal. Além do mais, a língua é um importante “indicador de soberania cultural”, por isso, se o português está desvalorizado, não será uma lei que reverterá este problema.
Todavia, lamento pelo excesso de expressões inúteis que encontramos na publicidade, tanto de TV quanto em outdoors (esta palavra já é praticamente consagrada no idioma), e também no mundo de negócios. Expressões toscas como go ou not go são totalmente descartadas.
O motivo da valorização de estrangeirismos, em especial de origem norte-americana, é o contato cotidiano com o inglês, devido à globalização, que gerou uma certa idéia de status (outra expressão estrangeira), assim, parece mais fino falar pelas expressões que exigem uma ‘forçadinha’ no sotaque. Além do mais, demonstra mais intimidade com outras línguas, parecendo que domina não só o português, mas o estrangeiro também.
Se a população está agregando ao seu vocabulário cada vez mais palavras estrangeiras, enquanto desconhece a própria língua, o problema está no que causa isto tudo, e não na conseqüência. Estrangeirismo é apenas uma conseqüência da crescente convivência, absorvendo diversos costumes, com a cultura norte-americana. Herdamos muitas características do nosso vizinho estadunidense, como a arquitetura atual da cidade, o hábito de andar em grupos, tribos urbanas que provém daquela cultura, há grande contato com a música ianque muito mais do que com a de outros países, as comidas rápidas ou semiprontas, a grande audiência de filmes hollywoodianos etc.
Tudo encaminha a uma interseção de línguas: em alguns pontos bem dosada; em outros, exageradamente inútil. Diante dessa relação costumeira do uso, mesmo que indevido, proibir estrangeirismos por lei seria tão inútil quanto proibir desvios gramaticais ou gírias. Será que realmente vale a pena este confronto? Não seria melhor pensar por que uma pessoa prefere um termo estrangeiro em vez do nacional? São pontos, logicamente, muito mais difíceis de serem tocados. Talvez por isso sejam ignorados.
Adriano Senkevics

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Precisão

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Clarice Lispector

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandesque não tinha entrado na história.

Drummond

Relato pessoal do livro "Capão Pecado"

Ler o livro "Capão Pecado" foi para mim uma fantástica experiência, pois o enredo do livro me remeteu a uma realidade bem distante da minha; realidade essa que é morar em uma favela e ir dormir tranquilo com barulho de tiroteio, pois aquilo é "normal". A principio não gostei muito do livro, porque ele conta uma história que se repete na vida real, mas só muda os nomes dos personagens. Para mim foi bom ler "Capão Pecado", porque ele me fez entender o que faz se repetir atrocidades (que a mídia adora noticiar) como a que o personagem Rael cometeu matando seu chefe, e vemos coisas do tipo nos noticiarios e pensamos "Ah! É um bandido! Tem que ser preso!", mas nós não queremos saber como foi a infancia do cara, não queremos saber como era sua relaçao com seus pais, se é que teve pais, e outras coisas que podem alterar o cerebro do cara. O livro me fez tambem banir o preconceito de que só há bandidos na periferia, pois ele conta histórias de pessoas honestas. De um modo geral gostei muito do livro, só de uma coisa não gostei, que é o livro não ser mais uma história ficticia e sim uma historia que é a nossa realidade de hoje.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O decálogo do bom corruptor


I.
Nunca ninguém perdeu dinheiro investindo na desonestidade.

II.
Só louco rasga dinheiro? Bobagem. Nem louco rasga dinheiro. Experimente jogar uma nota de cinqüenta (ou mesmo de um!) num pátio de insanos. Vai ter briga pra pegar.

III.
Como posso ser compreendido por milhões de medíocres que continuam a acreditar em caderneta de poupança?

IV.
Na nota do freguês nunca esquecer de somar também o dia e o ano. Se o freguês reclamar a gente dá outra nota e põe a diferença como desconto para clientes especiais. Os bancos fazem isso o tempo todo.

V.
O ser humano só aprendeu a contar depois que o dinheiro apareceu na face da Terra. O homem aprendeu a contar pra poder contar dinheiro.

VI.
Lucro ilícito é precaução mínima que você tem que tomar pra não ter prejuízo.

VII.
O lucro, disse o banqueiro, é minha pátria. Justificando ter se naturalizado paraguaio.

VIII.
Quanto é muito? Quanto é demais? Eu, por exemplo, que moro no Rio à beira-mar, tenho carro (1998, é verdade) e como nos melhores restaurantes, me considero um homem pobre.

IX.
Pra quem gosta de puxar, qualquer saco serve. Acaba sempre puxando o saco certo. O de dinheiro.

X.
Quando o paciente emocionado, diante do médico que lhe salvou a vida, declarou que "não tinha como lhe pagar", o médico sábio esclareceu: "Meu filho, desde que os fenícios criaram o sistema fiduciário essa questão está plenamente resolvida".



Millôr Fernandes

Fantástica Mafalda

Tirinha 413

Tirinha 411

Gourmet Nacional



Poemeu de louvor
ao bom gurmê nacional.

Se,
Já nos tempos de Cabral,
Selvagem comia bispo
Com prazer, sem ritual,
E até sem avental,
Se
Hoje pobre come rato
Como coisa natural
Se
Todos nós comemos carne
De tudo de que é animal
Se gente sempre comeu gente
E nem só por via oral
Por que culpar os ministros
Que comem 30 por cento
Comem bem ou comem mal?
Meu bem, na hora da fome,
Que de nós não é canibal?

Millôr Fernandes

Viver (Mário Quintana)

Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!