A obra de Hieronimus Bosch é uma das mais intrigantes que se conhece. Bosch explora a torturada fantasia do ser humano alguns séculos antes da psicanálise surgir. Traz a tona um tesouro inesgotável de cenas, como se todos os teatros fantásticos do mundo estivessem reunidos num só palco.O mistério da arte de Bosch é, em primeiro lugar, o próprio mistério da mente humana. A sua pintura mergulha em busca da realidade interior do homem.Por outro lado, o mistério da arte de Bosch é, em grande parte, o mistério medieval das aldeias do norte, cinzentas e envoltas em brumas. Camponeses supersticiosos viam em todas as coisas conteúdos assombrosos, desígnios sobre humanos, manifestações divinas e diabólicas. É justamente esse mundo povoado de terror, esse permanente pesadelo em que o pecado espreita a cada momento, esse mundo onde não há lugar para razão e onde o homem vive dilacerado por forças superiores, esse mundo macabro e tenebroso que constitui o tema e o objetivo da pintura de Bosch.
De estilo único, Bosch não tem paralelos na tradição da pintura holandesa. A Sua obra não se parece com a de nenhum outro pintor da época. A maioria das cenas de seus quadros giram em torno de cenas da vida de Cristo, ou de um santo sendo confrontado com o mal ou com a tentação. Muitas vezes as suas obras mostram alegorias ou provérbios sobre a insensatez do homem. Contudo, as suas obras parecem modernas mesmo quatrocentos anos depois de terem sido feitas. A influência de Bosch emergiu no Expressionismo e, mais tarde, no Surrealismo.
Jeroen van Aeken, cujo pseudónimo é Hieronymus Bosch, e também conhecido como Jeroen Bosch, ('s-Hertogenbosch, c. 1450 — Agosto de 1516), foi um pintor e gravador holandês dos séculos XV e XVI.
Acredita-se que a família era originária de Aachen, na Alemanha, conforme sugere o sobrenome, e estabelecera-se na Holanda ainda no início do século XV. O pai de Bosch, Anthonius van Aken, era pintor, assim como o avô, Jan, dois ou quatro tios, o irmão Goossen — que herdou a oficina paterna — e uma irmã (Heberta ou Katherine).
Muitos dos seus trabalhos retratam cenas de pecado e tentação, recorrendo à utilização de figuras simbólicas complexas, originais, imaginativas e caricaturais, muitas das quais eram obscuras mesmo no seu tempo.
Em 1486 ingressa na Confraria da Virgem Maria, para a qual, além de pintar, organiza a representação teatral de mistérios. Em 1493 desenha os vitrais da Catedral de S. João da sua cidade natal.
Pintores alemães como Martin Schongauer, Matthias Grünewald e Albrecht Dürer influenciaram a obra de Bosch. Apesar de ter sido quase contemporâneo de Jan van Eyck, seu estilo era completamente diferente.
Especula-se que sua obra terá sido uma das fontes do movimento surrealista do Século XX, que teve mestres como Max Ernst e Salvador Dalí.
Pieter Brueghel o Velho foi influenciado pela arte de Bosch e produziu vários quadros num estilo semelhante.
História
O seu nome verdadeiro era Hieronymus (ou Jeroen) van Aken. Ele assinou algumas das suas peças como Bosch (pronuncia-se como boss em holandês), derivado da sua terra natal, 's-Hertogenbosch. Em Espanha é também conhecido como El Bosco.
Quase nada ou, muito pouco, se sabe sobre a vida de Bosch, mas com uma vida tranqüila e confortável, em sua infância morou numa casa abastada, onde religião e arte eram assuntos de fundamental importância. Morou a partir de 1462, num casarão da Grote Market, a praça mais importante de 's-Hertogenbosch, onde estava instalada a feira de tecidos, principal riqueza da cidade.Os Van Aken mantinham estreitas relações com a Catedral de São João, edifício gótico que constituía um dos maiores orgulhos da população local. Recebendo encomendas para decorar peças de mobiliário e colorir estátuas, e é possível que Jan tenha pintado um fresco sobre a Crucificação, datado de 1444.
Poucas biografias existem sobre Bosch, e nenhuma fornece indicações a respeito da sua evolução.
Há hipóteses de alguns estudiosos — não comprovadas — de que tenha estudado em algum centro próximo, como Utrecht, onde teria entrado em contacto com as iluminuras que influenciaram a sua obra em determinado período.
É mais provável, no entanto, que se tenha iniciado na arte sob a orientação do pai ou de um dos tios (o avô havia morrido na época do seu nascimento).
Por volta de 1480 ou 1481, possivelmente, Bosch recebeu o grau de mestre na corporação dos pintores de 's-Hertogenbosch. Nesta mesma época, é citado pela primeira vez como marido de Aleyt Goyaerts van den Meervenne, com quem se casara em cerca de 1478, esta era alguns anos mais velha e proveniente de uma rica família local. Aleyt sem dúvida favoreceu-o com polpudo dote e ajudou-o a estabelecer importantes contactos sociais. Seu casamento trouxe a Bosch prosperidade, tornando-se proprietário de terrenos na vila vizinha de Oorschot e vários outros imóveis, que lhe permitiram viver confortavelmente até seus últimos dias — embora também lhe causassem trabalho e preocupação, pois, sabe-se que por várias vezes precisou cuidar de questões referentes a esses bens e parece que em 1481 envolveu-se num processo legal com o cunhado. No entanto, esses problemas não devam ter afectado sua vida conjugal, que, acredita-se, transcorreu feliz, num lar tranquilo e sem filhos.
Propostas por Wilhelm Frãnger, uma das teses mais conhecidas, sugere que o pintor pertencia ao grupo Homines Intelligentiae, organização satélite da seita dos Irmãos e Irmãs do Livre Espírito, também conhecidos como adamitas. Seita herética que surgiu no século XIII e, durante o século XV, fora difundida pela Alemanha, Bélgica e Holanda. Seus adeptos acreditavam que toda a humanidade seria salva desde que recuperasse a inocência de Adão e Eva no Paraíso perdido, e o meio mais eficiente de atingir este objetivo seria a prática do acto sexual em promiscuidade ritualística. De acordo com essa tese, o célebre tríptico O Jardim das Delícias focalizaria a orgia ritual de alguns adamitas de s-Hertogenbosch. Nenhuma prova existe de que Bosch, ou qualquer outra pessoa da cidade pertencessem à seita do Livre Espírito, nem que esta tenha sobrevivido até a época da elaboração do tríptico.
A hipótese muito mais viável é a de que Bosch tenha participado da Irmandade da Vida Comum, uma das muitas confrarias religiosas que proliferavam em 's-Hertogenbosch. Criada no século XIV por Gerhard Grote, discípulo do grande místico e eremita flamengo Jan van Ruysbroeck, e levada para a cidade de Bosch na primeira metade do século XV, esta Irmandade pregava um novo espírito de vida religiosa, combatia ao mesmo tempo as seitas heréticas e a corrupção do clero. A firme devoção de seus adeptos levava-os a renunciar aos apelos do mundo e a partilhar tudo que possuíam. As idéias da Vida Comum provavelmente exerceram forte influência sobre a religiosidade e a arte de Bosch, que as teria apreendido tanto nas reuniões a que provavelmente comparecia como nas obras de místicos flamengos contemporâneos que também as adotavam.
A IRMANDADE DE NOSSA SENHORA
Foram possivelmente as mesmas idéias que ocasionaram profunda mudança na orientação da Irmandade de Nossa Senhora. Fundada em 1318, a Irmandade durante quase um século dedicou-se basicamente a tarefas ligadas ao culto, sobretudo ao culto mariano; seus membros, homens e mulheres, leigos e religiosos, tratavam, entre outros encargos, de providenciar novas composições musicais para suas missas diárias e encomendar obras de arte para adornar sua própria capela na Catedral de São João, onde mantinham uma imagem da Virgem tida como miraculosa. Talvez sob influência da Vida Comum, a partir do século XV a Irmandade passou a dedicar-se também a obras de caridade, ampliando ainda mais sua importância na vida da cidade.
Bosch ingressou na Irmandade de Nossa Senhora em 1486 ou 1487, onde sua mulher era membro.Seu nome, porém, começou a constar dos registros da confraria alguns anos antes. Estes informam, por exemplo, que em 1480/81 Bosch comprou da Irmandade dois retábulos que seu pai deixara inacabados; não há maiores explicações a respeito, mas é possível ter adquirido as obras com a intenção de concluí-las. Mais tarde, entre 1488 e 1492, Bosch pintou as portas de um retábulo de madeira sobre Nossa Senhora, cujo painel central fora esculpido em 1476/77 por Adriaen van Wesel, de Utrecht. Elaborou no ano de 1493/94, um vitral para a nova capela da Irmandade. Entre 1499 e 1503, os registros silenciam a seu respeito, supondo-se que, nesse período, Bosch tenha viajado para a Itália.
Existem registos de que em 1504 Filipe o Belo da Borgonha encomendou a Bosch um altar que deveria representar o Juízo final, o Céu e o Inferno. A obra, actualmente perdida (sem unanimidade julga-se que um fragmento da obra corresponde a um painel em Munique), valeu ao pintor o reconhecimento e várias encomendas posteriores. Os primeiros críticos de Bosch conhecidos foram os espanhóis Filipe de Guevara e Pedro de Singuenza. Por outro lado, a grande abundância de pinturas de Bosch em Espanha é explicada pelo facto de Filipe II de Espanha ter coleccionado avidamente as obras do pintor.
Bosch é considerado o primeiro artista fantástico.
Obra
Bosch destaca-se pela sua originalidade. Vive numa época muito apressada entre a Idade Média e o Renascimento, e há nele um moralismo e um tratamento das alegorias tipicamente medievais. O seu sentido de humor e o seu ânimo burlesco são inconfundíveis. Por outro lado, a sua expressão esotérica aparenta-o com os cultivadores da alquimia. O seu modo de considerar os santos como seres comuns e vulneráveis (As Tentações de Santo Antão, tríptico, no Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa) difere da tradição medieval. Sendo embora um pioneiro que cultiva as representações realistas de um modo insólito na época, as suas obras estão submersas no universo medieval das farsas, das bruxas e das extravagâncias. Às vezes parece roçar o mundo da loucura (A Nave dos Loucos) ao reflectir os atrozes castigos que esperam os pecadores (O Juízo Final, díptico conservado em Bruxelas) ou as tentações dos prazeres proibidos (O Jardim das Delícias, no Prado). Este último quadro, com as suas cenas oníricas e fantásticas, de grande originalidade, é admirado e constantemente reinterpretado ao longo dos séculos. Obra grande sua é o Carro de Feno, símbolo dos prazeres materiais: o carro está ocupado por um par de namorados e, além disso, tentam subir para ele personagens de todo o tipo, desde um vilão até um imperador e um papa. O talento de Bosch reside em saber ultrapassar a mera narração do seu universo simbólico para o recriar com um dinamismo surpreendente.



Actualmente apenas se conservam cerca de 40 originais seus, dispersos na sua maioria por museus da Europa e Estados Unidos da América. De entre estes, a colecção do Museu do Prado de Madrid é considerada a melhor para estudar a sua obra, visto abrigar a maioria daquelas que são consideradas pelos críticos como as melhores obras do pintor.
As obras de Bosch demonstram que foi um observador minucioso bem como um refinado desenhador e colorista. O pintor utilizou estes dotes para criar uma série de composições fantásticas e diabólicas onde são apresentados, com um tom satírico e moralizante, os vícios, os pecados e os temores de ordem religiosa que afligiam o homem medieval. Exemplos destas obras são:
O Carro de Feno - (Museu do Prado, Madrid)O Jardim das Delícias - (Museu do Prado, Madrid)O Juízo Final - (Akademie der Bildenden Künste, Viena)As Tentações de Santo Antão - primeira versão - (Museu de Arte de São Paulo, São Paulo)As Tentações de Santo Antão - versão definitiva - (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa)Os Sete Pecados Mortais - (Museu do Prado, Madrid)Navio dos Loucos ou A Nau dos Insensatos - (Museu do Louvre, Paris)Morte e o Avarento - (Galeria Nacional de Arte em Washington, DC.
A par destas obras, que imediatamente se associam ao pintor, há que referir que mais de metade das obras de Bosch abordam temas mais tradicionais como vidas de santos e cenas do nascimento, paixão e morte de Cristo.
O original tríptico As Tentações de Santo Antão esta incorporado no Museu Nacional de Arte Antiga a partir do antigo Palácio Real das Necessidades. Desconhecem-se as circunstâncias da chegada da obra a Portugal, não sendo certo que tenha feito parte da colecção do humanista Damião de Góis, como algumas vezes é referido.
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